Amapá
O Trapiche Eliézer Levy (Parte 2)
Uma reportagem de 2001 sobre o Trapiche Eliézer Levy. Um texto a somar um pouco mais no conhecimento da história do Amapá. Publicado na Revista Amapá News (Ano I - Edição 01 - Dezembro de 2001)
TRAPICHE ELIÉZER LEVY
PORTAL DO TEMPO, ANCORADOURO DE SONHOS.
Por Júnior Nery
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O velho trapiche foi cúmplice de artistas e boêmios. |
Fonte de Inspiração de poetas, músicos, intelectuais e de gente comum, o trapiche Eliézer Levy sempre encantou macapaenses e turistas pela beleza de sua arquitetura e edificação grandiosa. Um marco histórico que abrigou durante gerações, jovens e adultos, que no passado iam até lá para fomentar idéias, elevar o espírito, contemplar o rio Amazonas ou até mesmo para amar. Pessoas que sentiram na pele o temor de viver sob o regime militar nas décadas de 60 e 70 e que em meio a boa conversa e garrafas de Rum, buscavam achar soluções, fazer críticas ao sistema, compor e se apaixonar. A ânsia pelo direito à liberdade que lhes eram tolhidas sobrepunha o autoritarismo, e o trapiche, condigno com as idéias revolucionárias, acolhia a todos sem distinção de credo.
Velho amigo da população amapaense e cúmplice de muitos amores, o trapiche Eliézer Levy foi criado em 1936, pelo então governador do Amapá, que lhe emprestou o nome. Sua imponência em madeira de lei serviu durante muito tempo como principal porto de Macapá. Embarcações de portes variados atracavam ali trazendo pessoas, e com elas novidades, produtos e "moda". Devido a ação do tempo, o velho e forte trapiche foi se deteriorando, e sua restauração era uma das principais promessas políticas da época, mas nunca realizada.
Com a transferência do porto para Santana, o trapiche ficou abandonado pelas autoridades. Foi então que o governador João Capibeiribe começou a restauração, utilizando-se dos mais avançados recursos da engenharia civil, e presenteando a cidade com um novo e fortalecido trapiche, no dia 27 de setembro de 1998.
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O novo trapiche é uma obra de arte e engenharia. |
A reforma durou um ano e quatro meses. A edificação foi composta por madeira de lei e concreto armado, e 372 metros de comprimento, de um sonho enfim realizado.
O projeto foi batizado pelo saudoso jornalista Hélio Penafort de "Urbanístico-Sentimental", e dizia que: "O que se imaginava de uma obra pública como outra qualquer, de repente virou marca da cidade, referencial do Braço Norte e chamariz da população na hora em que se entregava ao lazer, as brincadeiras e as contemplações". O Eliézer Levy, após restaurado, ganhou de presente de alguns dos seus mais ilustres amigos, um livro: "Trapiche, Ancoradouro dos Sonhos", reunindo contos (alguns verídicos, outros fantásticos) de escritores que cresceram acostumados a presença do colossal monumento, que impiedosamente influenciaram em suas carreiras, enchendo-os de sonhos e garra.
As histórias que cercam o trapiche são tomadas por fatos curiosos, alguns bem conhecidos. Talvez o mais comentado seja o da teimosia do governador Eliézer Levy quando quis realizar a construção. Ele queria, ou melhor, fez um trapiche que media 400 m, e a marinha argumentava que seria impossível construí-lo, por causa do rápido assoreamento do rio Amazonas e acúmulo de terra ou lama no leito no período de vazante - que impediria a atracagem de barcos na maré baixa. Mas, nada inibiu a insistência do governador, e hoje, o trapiche assume um grande valor histórico e cultural para Macapá. Outros fatos inusitados cabem às particularidades dos assíduos frequentadores: Fernando Canto, no auge de sua adolescência, na tentativa de conquistar a garota mais bonita da cidade - segundo ele - passou um vexame daqueles. "Eu estava andando de bicicleta em frente ao trapiche, quando avistei aquela garota, de repente, notei que ela estava me olhando, e, quando menos esperava, passei com a bicicleta em cima de uma pedra, me desequilibrei e cai. Morri de vergonha! Essa menina nunca mais me deu bola", confessa. |
Capa da Revista |
Hoje, o trapiche é ponto de encontro de jovens que difundem suas ideologias, sonham e é onde buscam inspiração para celebrar nossa cultura. E possível considerar o Eliézer Levy como um portal do tempo. Que, apesar do longo período em que esteve interditado, nunca deixou de ser frequentado por aqueles que sonham por um futuro melhor, e, que sabem que para isso, trocar idéias é fundamental. E não há melhor lugar para refrescar a mente para que dela brote novas idéias que o velho trapichão.
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