A Biblioteca Comunitária Barca das Letras é o ponto de encontro e saída para estas jornadas culturais no Amapá. Está aberta à visitação lá no Bairro do Laguinho, na Av. Ernestino Borges - Nº 567 (entre ruas General Rondon e Eliezer Levy). |
Que bom seria se outras bibliotecas comunitárias como esta existissem em outros bairros de Macapá. Qualquer cidadão têm a liberdade de chegar, escolher uma publicação e levar, sem também esquecer de devolver né. Mas olha aí.... este é um bem comunitário, por isso os idealizadores (Sr Jonas e Dona Rita) procuram também a conscientização dos visitantes no sentido de conservá-la, algo que deve partir de todos. Qualquer doação é enriquecedora e bem-vinda. Dá uma aparecida por lá!!! Afinal, não vistes já aquela frase: um país se faz com homens e livros (Monteiro Lobato, moçada!!). "Mudar é difícil mas é possível" Paulo Freire |
Esse aí é o Jonas, quando o conheci, em preparativos para a jornada cultural realizada no final de agosto e início de setembro, em comunidades ribeirinhas do Macacoari. Me foi estendido um convite e tive a grata satisfação de participar da última neste ano.
Já essa nega maluca aí é a Rita, também muito popular entre a criançada, na realização do projeto. Foi com estes dois malucos (pelas boas causas) que, entre os dias 11 e 15 de novembro, fui para o Município de Itaubal do Piririm. Na bagagem, além do mala chamado Rogério Castelo (lá da Biblioteca da SEMA-AP), foram levados muitos livros e disposição também.??
Este ano foram arrecadadas 5 mil publicações em campanhas de apoio do SEBRAE e da Escola Conexão Aquarela, em Macapá. Uma equipe do SEBRAE se deslocou também conosco até a comunidade de Carmo do Macacoari. |
Olha aí Carmo do Macacoari! Comunidade tipicamente interiorana, distante cerca de 120 km de Macapá. Há muitas crianças no lugar e, reconhecendo a chegada da van com os educadores Jonas e Rita, recebem-nos com alegria e já vão em busca de informações do que se realizará. Vi relatos de que aguardam com muita expectativa, principalmente nas proximidades dos dias marcados para a chegada. Essa comunidade tem recebido há 3 anos o projeto e acredito que as primeiras sementes da educação ambiental já germinam em muitos. |
... E mais um pouco de Carmo! Veja aí o rio Macacoari, é um desses rio encantados. Na altura de Carmo não é largo, com águas claras e uma biodiversidade incrível. Navegando pelo rio, tive oportunidade de presenciar pássaros, quelônios, macacos e um encantador encontro com muitos botos. A região ainda é bem preservada, tem um ninhal e a presença histórica do Quilombo de Conceição do Macacoari, mas estes não deu para conhecer. Carmo do Macacoari, como toda comunidade do interior, tem seus atrativos e necessidades de melhorias pelo Poder Público. |
Ao contrário de outros anos, em que se focou a construção da biblioteca comunitária, neste ano o objetivo foi estimular o gosto e apego pelos livros com a formação de bibliotecas individuais. Incentivou-se também a troca de publicações entre os leitores e uma futura doação a biblioteca comunitária. |
Na distribuição das publicações, os livros, revistas, folhetos, quadrinhos e textos foram espalhados em uma lona multicolorida e os jovens leitores e moradores foram convidados a conhecer e escolher. Frente a intensa procura, foi estipulado um número de 20 publicações para cada visitante. Houve a presença de mais de 100 pessoas, entre crianças, adolescentes, estudantes, professores e moradores locais. A equipe de apoio do SEBRAE ajudou também neste momento. Sempre em evidência o estímulo: à leitura, à conservação dos livros, à busca por novas coisas com a troca e à visão de se enriquecer a biblioteca comunitária com a doação futura dos mesmos livros. |
Conheci também uma dinâmica em educação ambiental muito bacana. As crianças são convidadas a construir com os arte-educadores um grande varal, onde o lixo local é coletado e exposto. Recebem pintura (frases sobre lixo e lixeira são estimuladas) e deixam uma impressão impactante no final a quem observa. Seja pela curiosidade que despertam ou desconforto de alguns em ver aquele lixaral pendurado. No contexto as crianças vão sendo educadas e estimuladas a cuidar do ambiente. |
... E à noite tem o cineminha! Rapaz, isto é algo extremamente aguardado pelas crianças. Marcamos a hora e algumas já esperam na porta da casa bem cedo. A proposta é passar filminhos educativos e há sempre a solicitação por animações relacionadas às lendas e Turma da Mônica, principalmente do Chico Bento. Acredito ser uma identificação coletiva e subconsciente com os temas. As animações são uma excelente fonte educativa. As crianças dessa comunidade foram muito receptivas, mesmo a um seleto Dom Casmurro como eu, ou ainda, Sr Caladão. |
Esta é São Tomé do Macacoari! Comunidade ribeirinha em uma das muitas curvas do rio Macacori (3 h de barco partindo de Carmo). O rio neste trecho já não é aquele de águas claras e estreito de onde saímos. Já vai assumindo as características de rio com muitos sedimentos, com águas daquele marrom característico do rio Amazonas - onde deságua - e vai ficando mais largo até a foz. O ambiente é bem preservado e o ribeirinho tem no pescado seu principal alimento (exemplo disso foi presenciar a chegada de um pequeno barco e o piloto, no porto mesmo, jogar a linha e "puxar" quase em seguida um grande peixe chamado "Filhote".... jantar garantido). Essa comunidade não é grande e teve fundação recente, uma forma de atrair mais atenção da Administração Pública para suas necessidades... o que para um é difícil, para muitos torna-se mais fácil. Cada comunidade tem suas características e nesta, talvez pelo trabalho ser mais recente, os moradores foram um pouco mais esquivos. Essa vida ribeirinha é sempre um mar de contrastes, onde vamos temos sempre a oportunidade de conhecer e aprender novas coisas... ali não foi diferente. Alguns adolescentes chegaram e o que procuraram de imediato foram livros de poesia... creio ser resultado de sementes que foram plantadas e estimuladas. Um pouco de oportunidade e grandes coisas podem ser descobertas ou surgirem (este ano, para quem não sabe, três meninas do Estado do Amapá foram as primeiras colocadas em um concurso nacional de histórias... olha aí, na vida ribeirinha também temos muitos talentos... só estimular e dar oportunidades). Trabalhos como este devem receber todo reconhecimento merecido e apoio. |
Em São Tomé estivemos uma parte do dia (13/11)... novamente a mesma dinâmica de distribuição de livros. A criançada foi direto nos gibis, principalmente da Turma da Mônica e de um familiar Chico Bento, enquanto alguns adolescentes procuraram romances, aventuras e poesias. |
Apesar do pouco tempo que passamos, a comunidade recebeu um grande número de publicações. |
"A leitura de um bom livro é um diálogo incessante: o livro fala e a alma responde." (André Maurois) |
Esta é a Biblioteca Comunitária de São Tomé do Macacoari. Nestes interiores a energia elétrica é distribuída das 17 às 22h, ou seja, não encontramos a influência direta da televisão. A biblioteca oportuniza uma boa fonte de leitura na rotina do ribeirinho. |
E assim foi nossa passagem em São Tomé. Descemos o rio, após o almoço, em direção a Foz do Macacoari... uma nova história. Mais 3h de viagem e a disposição de aprender com eles e compartilhar um pouco mais do fundamental encanto da literatura. "O amor é uma intercomunicação íntima de duas consciências que se respeitam. Cada um tem o outro como sujeito de seu amor. Não se trata de apropriar-se do outro.? Paulo Freire |
E aqui está Foz do Macacoari! Tipicamente ribeirinha... com suas passarelas e povo acostumado a uma rotina diferente, é uma outra realidade... Energia limitada, pescado presente na mesa (um peixe fresco que pescam rotineiramente lá pelas altas horas da madrugada), das criações de subsistência, da confecção do azeite de andiroba, das retretis e sentinas... retreti e sentina???, da necessidade de aprimoramento na educação ambiental, do extrativismo do açaí (meu amigo pense em um tomador de açaí... tens daquelas tigelas de colocar feijão na mesa, pois é... é a "cuia" de tomar açaí de alguns -"o cabra enchi inté as buca... fora a repitoca"), e de muito mais... Um povo que me deu oportunidades de muito aprendizado. Às vezes, me perguntam como é ali e digo que são sábios em sua ciências. Conhecem a fauna e flora local, as características do rio - oportunidades, encantos e perigos - são mestres na navegação fluvial, na farmacêutica natural, no lidar com situações inesperadas frente o rio e mais... nessa indomável, misteriosa, encantadora, desconhecida, isolada, discriminada, triste, alegre, preservada, destruída, amada, odiada, esquecida, enganada, imponente, forte, frágil, necessitada de assistência, sofrida e abençoada Amazônia destes torrões do Amapá... domínios ribeirinhos. |
Percorri tudo que pude por lá e aqui mais uma janela mostrando essa comunidade ribeirinha. "A educação é um processo social, é desenvolvimento. Não é a preparação para a vida, é a própria vida." (John Dewey) |
Você que nunca foi em uma comunidade ribeirinha, veja que a vida por lá é bem simples... mas não sem dificuldades... não é um mar de rosas. A Amazônia tem suas dádivas e também suas intempéries (chuvas, cheias, distância, endemias... só um povo forte e adaptado para conviver com tudo... ah, mas é tudo difícil mais para quem não é de lá mesmo). A casa em destaque é um posto de saúde (a assistência médica é vez por outra e quando se faz presente, vem ribeirinhos desta e de outras comunidades - o atendimento acaba acontecendo na escola). A árvore em destaque deixei por apresentar um ninhal de japim... tem muito desse pássaro por lá. |
Esta é a escola da comunidade e fica um pouco afastada, no final de uma grande passarela. Com um pouco de exageros - sou muito ruim em cálculos - vou dizer que tem uns 800 metros e segue rodeada da imponente Amazônia (estes termos de exaltação à Amazônia não são novos e gosto de usar... uma homenagem, de um narrador furreca, à citações de grandes escritores - como Euclides da Cunha - que escreveu em À Margem da História: "a Amazônia selvagem sempre teve o dom de impressionar a civilização distante"). Durante um tempo não soube o porquê do "isolamento" da escola e depois entendi que seu porto fica em um lugar estratégico onde a vazante das marés não afeta tanto. Para esta escola chegam estudantes em embarcações de outras localidades também, alguns moram do outro lado do rio. Percorrendo estes locais "suzinho" vi muitas coisas encantadoras... até um grande pássaro que ficou me encarando bem de pertinho e sem medo, mesmo olhando a minha cara... identifiquei depois como uma Matinta-perera... MATINTA-PERERA!!!! MEU JESUS QUERIDO!!! Rapaz, acho que me encantou!!! pois estou ficando cada vez "mais avoado nos meus sonhos" e muito mais apaixonado por estas terras ribeirinhas do Amapá. |
Imagens do acervo da Biblioteca Comunitária da Foz. São duas salas no que sobrou das instalações de uma antiga escola. Os livros podem ser emprestados e a biblioteca está sendo conservada pela Kelly. |
Espera lá! Já não vejo beleza aqui... é uma imagem comum também na minha cidade Macapá... na sua também.... e em todo lugar onde há pessoas que ainda não entenderam a importância, responsabilidade, bem comum, dever e atitude nada difícil de se preservar o meio ambiente. Entre os ribeirinhos não é diferente. Oras... uma lata como essa, feita em um lugar muito distante, que viajou e navegou um monte de horas para chegar, não pode se aposentar da sua vida de lata passando uns 200 anos enfeiando, sujando e querendo destruir esse lugar. É preciso um trabalho de conscientização e educação ambiental. Ah.... é hora de falar um pouco do trabalho educativo do Jonas e Rita na Foz do Macacoari. |
A garotada viaja nestas histórias. |
Bem-vindos ao admirável mundo da leitura! Como em outras comunidades, novamente a distribuição de livros e incentivos para a formação de mini-bibliotecas particulares, conservação, troca e doação à Biblioteca Comunitária. Muitas crianças e adolescentes compareceram, numa busca prazerosa por quadrinhos, poesias, aventuras, revistas... alguns até bem seletivos, como o Sr Martinho (figura bem conhecida e com grande conhecimento da navegação naquele rio), este procurava "O mundo de Sofia" de Jostein Gaarder e citou outras obras lidas de cunho filosófico. Você já leu "Assim falou Zaratustra" de Nietzsche? Pois então.... é um dos livros de cabeceira do singular ribeirinho. Providenciei-lhe a obra que procurava, aguardando sua visita na Biblioteca SEMA em Macapá. |
Olha aí a Gabi... |
... Só artista! |
E a galeria de artes vai se formando, o lixo se transformando, as crianças se educando, e a comunidade melhorando. Assim seja!!!! |
Mais um pouco da produção dos jovens artistas. |