Quinze de maio está marcado na história do Amapá. A data relembra o fatídico episódio de 1895 na Vila de Espírito Santo do Amapá, quando soldados franceses, de forma cruel e arbitrária, massacraram e incendiaram o povoado, resultando na morte de 38 pessoas. O fato foi desencadeado pelo embate entre Cabralzinho e o capitão Lunier, que resultou na morte do segundo e na maior chacina ocorrida nestas terras. Fatos tristes e determinantes para a questão do Contestado Franco-Brasileiro, com parecer favorável ao Brasil em 1900. Ensejo para a sugestão de duas obras encontradas nas principais bibliotecas em Macapá, além de links adicionais para uma leitura mais esclarecedora sobre essa história.
"Cabralzinho - A construção do mito de um herói inventado na sociedade amapaense" (Diovani Silva e Jonathan Viana, 2012)Título: Cabralzinho - A construção do mito de um herói inventado na sociedade amapaense
Autores: Jonathan Viana / Diovani Silva
Editora: Schoba
Páginas: 244
Ano: 2012
Temas: História do Amapá / Francisco Xavier da Veiga Cabral
ISBN: 978-85-8013-161-1
O livro faz uma análise da figura histórica de Cabralzinho e dos motivos que o definiram como herói no Amapá. Vemos um paralelo entre suas ações, a significância atribuída pelos interesses republicanos e a representatividade que tem atualmente no Amapá. Está organizado em três partes: A primeira faz a contextualização histórica da área de disputa entre Brasil e França (O Contestado). Litígio secular que culminou no fatídico combate de 15/05/1895 na Vila de Espírito Santo do Amapá. A região apresentava riquezas, era alvo de aventureiros e tinha intervenções dos dois países para sua anexação, apesar de acordos internacionais para manter a neutralidade. Os eventos ocorridos na data foram decisivos para a resolução do impasse, onde as ações de Cabral o tornaram mito e foram ideologicamente favoráveis ao ganho de causa pelo Brasil através do Laudo de Berna (1900).
Na segunda parte os autores discutem o heroísmo de Cabral e os interesses da nação. Historicamente ele era monarquista e foi elevado a herói republicano. No conflito em que foi mitificado por matar o capitão Lunier (militar francês que veio ao Amapá com um pelotão para prende-lo com álibi de ter detido um brasileiro que era submisso aos franceses, o Trajano) fugiu para o mato, deixando a população onde foi eleito líder à mercê dos franceses. Isso resultou em uma chacina (vingança francesa) que vitimou mulheres, crianças e velhos, com cerca de 40 mortes e várias casas incendiadas. Uma arbitrariedade e ilegalidade em relação a diplomacia.
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Francisco Xavier da Veiga Cabral |
Pode até ter sido estratégia de guerra e de sobrevivência a retirada de Cabral, mas por conta disso muitos morreram e outros lutaram a seu favor, sem reconhecimento na história. Esse é o ponto questionado de suas ações na obra, que foram mitificadas pela República em heroísmo exemplar e sugestionando a soberania da região para o Brasil. A França usou o fato para querer ser mais ostensiva na região e o Brasil apresentou laudos da presença mais intensa e desejosa de soberania brasileira, onde Cabral era o herói e representante maior dessa população em suas aspirações.
Na terceira parte vemos a representatividade de Cabral atualmente. Dada a sua importância, historicamente é pouco reconhecido ou celebrado no estado onde figura como herói, aparecendo no imaginário popular, às vezes, como piada pela fuga para o mato e manobras políticas. "Cabralzinho - O Herói do Amapá"
(Francisco Rodrigues Pinto, 1998)
Título: Cabralzinho - O Herói do Amapá
Autor: Francisco Rodrigues Pinto
Editora: Edição do autor
Páginas: 65
Ano: 1998
Temas: Cordel / História do Amapá / Francisco Xavier da Veiga Cabral
A obra é interessante com a história na linguagem do cordel. Vemos informações de cunho popular baseadas em relatos de moradores, fruto da pesquisa do autor.
O Cabralzinho figura como um herói celebrado em versos até engraçados. Imagina o cidadão chamando o capitão Lunier de "cara de coatá" (e coisas do tipo) e escapando com bravura de uma saraivada de balas, por mais de uma vez, evocando justiça em Deus, como é comum no heroísmo popular. Isso e outras coisas são mostradas. O Trajano (álibi da invasão francesa), por exemplo, ao ser recolhido pelos franceses está todo defecado de medo, e os soldados aparecem apavorados diante da bravura dos amapaenses. Evidentemente, são exageros e gracejos pertinentes à Literatura de Cordel, cheia de liberdades poéticas ousadas e sagazes.
Mas não pense que o cordel é só sarcasmo. A parte da chacina é apresentada até com os supostos nomes das vítimas, em uma visão aterradora de como aconteceu. Dramaticamente impressionante! Datas e motivações aparecem com alguma precisão. A parte que Cabralzinho correu para o mato, deixando a população sujeita aos invasores, sempre questiona seu heroísmo, pois sobreviveu, também, a custo da morte e empenho de muitos.
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Ilustração do Cordel
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O autor é um apaixonado pela terra e a exalta também em sua beleza natural, lendas e locais históricos. A obra é ilustrada com imagens da localidade. As pretensões franco-brasileiras também são evidenciadas, como a República Cunani (estabelecida em Calçoene para atender os interesses franceses) e o Triunvirato (onde Cabralzinho era um dos líderes e favorável à soberania brasileira).
Gostei da obra, que tem visão popular de valorização histórica e da terra.
Vale uma conferida!
"Inspira-me, Senhor
Nesta hora em poesia
Abre a minha memória
Com a tua sabedoria
Vós sois o meu mestre
Toda hora e todo dia
Meu Jesus de Nazaré
Creio em vós com muita fé
Na tristeza e na alegria.
Leitor eu vou escrever
Uma história real
A bravura de um herói
No Território Nacional
Você agora vai saber
Quem foi Francisco Xavier
Chamado Veiga Cabral..."
E aí! Estudando sobre o Cabral ou querendo saber algo mais? Essas obras vão lhe ajudar. Em Macapá, estão disponíveis para leitura nas Bibliotecas: Elcy Lacerda, Ambiental da SEMA, SESC-Centro e SESC-Araxá.
Para conferir também:
- Veiga Cabral (Cabralzinho) ? A Capoeiragem na Amazônia (Texto de Fabio Fernandes)
- Personagens: CABRALZINHO(Texto de Edgar Rodrigues)
- UMA FILHA DE CABRALZINHO VISITA O AMAPÁ (Texto de Nilson Montoril)
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