O livro Jari - 70 Anos de História, de Cristovão Lins, trouxe um relato histórico da região, vendo-se as fases e suas características, com destaque ao período de Ludwig (1967 a 1981).
Nessa segunda obra, A Jari e a Amazônia, publicada em 1997, a abordagem trata do desenvolvimento aliado a questões ambientais. Ponto que começou a ser ressaltado entre as décadas de 80 e 90, e que estava em paralelo com muito desconhecimento, principalmente manejo não sustentável em práticas rotineiras, como a pesca e caça predatória. A região do Jari é rica em recursos ambientais, aproveitados inicialmente com a cultura extrativista e atualmente por grandes empreendimentos (como o do caulim - considerada esta uma das maiores minas do mundo - e a fábrica de celulose). Exploração e sustentabilidade, aspectos vitais para a Amazônia em seu desenvolvimento, temática na obra.
O autor inicia com o resgate de pontos históricos da região em uma percepção socioambiental. Veja aí algumas delas:
A fase do José Julio poderia ter sido mais proveitosa para a população, e com menos gastos para o coronel, se tivesse aproveitado a estrutura que já havia em Almeirim. O que se viu foi uma centralização em Arumanduba que requereu muitos investimentos para a infraestrutura. Na fase dos portugueses a caça predatória foi usada na obtenção de lucros com o comércio de peles, e na do magnata Ludwig alguns erros do passado se repetiram, consumindo muito investimento para manutenção das silvovilas do Projeto Jari. E ainda ficaram em situação isolada para satisfação de suas necessidades e déficits, como o energético (uma parte disso motivada pela resistência do governo militar em propagandas negativas que levavam a questão ao imperialismo norte-americano e assim entraves eram criados. Beiradão, exemplificando, segundo o autor poderia ter sido também uma silvovila, mas o projeto enfrentou a resistência do governo territorial da época). Essa história vai longe e o Projeto Jari teve seus acertos e erros. Os capítulos VII, VIII e IX falam disso.
Para ter uma visão mais abrangente, olha aí o sumário:
Capítulo I - A região do Jari na época da colonização
Capítulo II - A saga do Coronel José Júlio de Andrade
Capítulo III - A expedição alemã ao Jari: cintífica ou com outros fins?
Capítulo IV - Ludwig, Azevedo Antunes e a Jari
Capítulo V - Como surgiu a Jari de Ludwig
Capítulo VI - Lendas, Costumes e Histórias do Jari
Capítulo VII - O Extrativismo na Amazônia
Capítulo VIII - Extrativismo x Produção Intensiva
Capítulo IX - A Energia na Região do Jari
Capítulo X - A evolução sócio-econômica da região
Capítulo XI - Pequeno Modelo Produtivo para as Várzeas da Amazônia
O livro tem conotação de valorização ambiental e humana. Assim, gostei também das histórias reveladas sobre a população local. As narrativas do folclore são muito atrativas, como a do Mapinguari e Cobra Grande, além de relatos de moradores em sua compreensão (ou incompreensão) sobre a natureza e seus mistérios. Um imaginário pelo qual me interesso, com as histórias de onça no cio, tamanduá cantante, macaco devorador de gente, etc.
A obra aborda também a fundação de Monte Dourado. Relato interessante.
Na imagem a localidade de Olho d'Água (em 1967), vendo-se o primeiro posto médico construído. Esse local corresponde hoje ao porto de Monte Dourado.
A fundação da vila é considerada em 25/05/1967, quando Rodolpho Dourado (engenheiro paraense contratado para a construção da vila) e seus companheiros desembarcaram. A imagem mostra o transporte de materiais para a construção dos primeiros acampamentos (1967). A vila foi batizada em conversa informal por amigos de Dourado. Tempos depois os americanos da Jari tentaram mudar para Monte Belo, pois histórias circulavam negativamente em Brasília de que estavam levando ouro para os EUA e o "Dourado" teria essa conotação de riqueza mineral. Após uma verificação, chegou-se a conclusão da referência ao engenheiro.
Em 02/05/983, através de Lei Municipal Nº 5.075, foi criado o Distrito de Monte Dourado, ligado a Almeirim, embora a data da criação da vila permaneça em 25 de maio.
02 de Maio de 1983 através da Lei Municipal nº 5.075 foi criado o Distrito de Monte Dourado, muito embora a data de sua fundação seja de 25 de Maio
em 02 de Maio de 1983 através da Lei Municipal nº 5.075 foi criado o Distrito de Monte Dourado, muito embora a data de sua fundação seja de 25 de Maio.
em 02 de Maio de 1983 através da Lei Municipal nº 5.075 foi criado o Distrito de Monte Dourado, muito embora a data de sua fundação seja de 25 de Maio.
Descobri algo muito legal. Finalmente entendi a etimologia da palavra Jari. Vem da língua indígena Wayãpi e significa rio das castanhas (Nhá = castanha e rim = rio).
A expedição alemã (1935/1937) é novamente mostrada. Algo nebuloso paira aí e não duvido dos interesses nazistas de olho grande na região, ainda mais que queriam traçar um caminho até a Guiana Francesa, seus inimigos em guerra.
Outro ponto que mostra a linha de pensamento do livro foi sobre a construção da Hidrelétrica de Santo Antonio. Na época de Ludwig não teve a licença dos militares e via-se no projeto um impacto ambiental grande, típico de empreendimentos sem uma visão mais atenciosa aos interesses ambientais, mas apenas a da meta do empreendedor.
O déficit energético sempre foi uma grave problema para as aspirações do desenvolvimento e o autor levanta a questão e necessidade, vendo-se nos anos 90 reformulações. Naquela época foi estabelecido um projeto que apontava uma usina com menos impactos, ao estilo fio d'água, como hoje está em construção (necessária como desejava Ludwig, mas com um novo estilo em voga no mundo atual)
Curiosas abordagens no livro, que não se resumem a isso.
A Jari e a Amazônia. A região rica e as possibilidades de exploração. Questões ambientais e a exploração racional.
O Livro é:
Título: A Jari e a AmazôniaAutor: Cristovão LinsEditora: DATAFORMAPáginas: 160Ano: 1997Temas: História / Projeto Jari Disponível para consultas nas principais bibliotecas em Macapá.
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