PATRIMÔNIOS DO AMAPÁ - Cultura Wajãpi (Homenagem ao Dia do Índio)
Amapá

PATRIMÔNIOS DO AMAPÁ - Cultura Wajãpi (Homenagem ao Dia do Índio)



  Wajãpi é coisa nossa!!!!
 Cultura de índios do Amapá é  proclamada patrimônio da humanidade.
Mas a maior parte dos brasileiros nunca ouviu falar deles.

(Pablo Nogueira?)

Embora seja pouco conhecida fora dos círculos dos antropólogos, a cultura dos índios wajãpi, que vivem no Amapá, acaba de ganhar o status de patrimônio da humanidade. O anúncio foi feito em novembro pela direção da Unesco - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, que conferiu o título também a outras 27 manifestações culturais de todos os continentes. A lista, cujo título oficial é "Obras-primas do patrimônio oral e imaterial da humanidade", contempla as mais diversas formas de tradição folclórica, como cantos religiosos, danças, teatro, dialetos e até festas de carnaval. No caso dos wajãpi, o item escolhido foi o kusiwa, uma forma de pintura corporal que reflete a mitologia da tribo.
O forte senso estético, porém, permite a eles incorporar a suas pinturas até mesmo padrões não-índios. Foi o que fez o jovem índio Ceni ao acrescentar o símbolo da marca esportiva Nike à sua pintura. Mas isso não seria contrário à idéia de tombamento? A diferença, explicam os antropólogos, está no fato de o patrimônio imaterial não ser um conteúdo específico, mas sim uma forma característica de expressão, um jeito próprio de pensar. E é essa forma de expressão que os wajãpi lutam para salvar da ameaça de extinção, presente no desinteresse dos mais jovens pelas tradições.
Beleza cotidiana
Os índios exibem suas pinturas 
em atividades do dia-a-dia, 
como nas aulas
Os wajãpi desenvolveram sua própria linguagem gráfica para representar o mundo ao seu redor. Ao invés de imagens realistas, eles usam padrões para representar temas e figuras sagradas de sua mitologia, como onças, cobras e peixes. No alto da página, por exemplo, pode-se ver à esquerda o padrão que identifica a tukã moj, ou cobra-tucano. A tukã moj é um ser mítico monstruoso que tem aparência de cobra, mas atrai suas vítimas perto da árvore onde se esconde cantando como um tucano.
Cada índio desenha em seu corpo combinações de vários desses padrões (na página ao lado vê-se uma dessas composições, com padrões de borboleta, de espinha de peixe pacu e até uma forma inspirada na bandeira nacional). Esses desenhos são pintados em cores vermelha e preta com tintas feitas a base de urucum e suco de jenipapo, e chegam a durar 20 dias.
Pintura protetora
Arte Abstrata
Em vez de figuras realistas, 
os wajãpi usam padrões   
que retratam seus seres mitológicos 
(acima, o da cobra-tucano)


Toda essa rica tradição de expressão simbólica, porém, estava um pouco desprestigiada. Os wajãpi foram contatados pela primeira vez há 300 anos, e desde então têm se relacionado continuamente com a sociedade branca, com maior ou menor grau de aproximação. Até 1995 havia forte presença de missionários junto às aldeias, e eles tinham bastante influência principalmente entre os jovens.
"Tudo isso criou um choque de gerações", reflete a antropóloga Dominique Gallois, do Núcleo de História Indígena e do Indigenismo da USP, que trabalha com os wajãpi há 25 anos e ajudou-os no processo que resultou na proclamação da Unesco. "Os mais novos têm uma fascinação pela escrita e muitos não se interessam pelos mitos. Vêem o saber deles como algo fragmentado e que não é real", conta.
Valor redescoberto
Aos poucos, porém, o quadro começou a mudar. Há 11 anos funciona um programa de formação de professores wajãpi. A formação acadêmica fez com que alguns desses professores, que são jovens, percebessem que não conheciam todos os nomes tradicionais da plantas nem sabiam de cor todas as etapas de certas cerimônias rituais.?
Tradição renovada 
Os índios usam vários 
padrões para criar
composições originais. 
Esta incorpora até
símbolos da bandeira brasileira
?Uma experiência menos gradual e mais chocante aconteceu em 1999, quando um índio viajou até Belém para fazer tratamento de saúde. Ao entrar numa loja de artesanato, viu expostas camisas e toalhas de mesa decoradas com os padrões kusiwa, sem que os wajãpi tivessem sido sequer consultados. Em série, essas experiências fizeram com que uma parte dos jovens despertasse para a importância de cultivar os conhecimentos tradicionais, bem como as formas de transmiti-los. O reconhecimento do kusiwa como patrimônio imaterial da humanidade é parte do esforço para chamar a atenção dos wajãpi para suas tradições.
O título acarreta também, por parte do nosso país, um compromisso ético oficial com iniciativas que ajudem a preservar o kusiwa. Dentre as iniciativas está a de conferir formação para pesquisa a alguns membros da tribo. Isso permitirá que os próprios índios passem a registrar suas tradições, ação até então restrita aos aos antropólogos. É uma cultura ajudando a preservar a outra.
Cópias da arte wajãpi são usadas ilegalmente para enfeitar camisetas.
O grande mosaico do mundo

Preservados
Carnaval belga e 
teatro indiano
O trabalho da Unesco para criar um acervo de patrimônio imaterial para a humanidade é um exemplo de globalização no que ela tem de melhor. De cara, desperta o interesse internacional por manifestações pouco conhecidas, como o carnaval de Binche, na Bélgica e o teatro Kutiyatam, da Índia.

"A Unesco selecionou essas manifestações não porque são excepcionais, mas sim representativas. Juntas, transmitem a idéia de que o mundo é um grande mosaico", diz Jurema Machado, coordenadora do setor de cultura da organização no Brasil. "Isso estimula as pessoas a olhar para as tradições mais próximas a elas de uma forma mais positiva", avalia.
Todas as tradições tombadas pela Unesco estão ameaçadas de desaparecimento, mas tiveram a sua preservação assegurada pelos respectivos países. Essa preservação, porém, não significa congelá-las no tempo. "Transformações são bem-vindas, desde que aconteçam por agregação. O que queremos evitar é que uma cultura soterre a outra completamente", defende Jurema.

 
 Fonte: Revista Galileu (Janeiro/2004)

Veja aqui o texto original da Revista Galileu (Janeiro / 2004)




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