BAIRROS DE MACAPÁ - Pacoval (Parte 1 - Origem do Nome)
Amapá

BAIRROS DE MACAPÁ - Pacoval (Parte 1 - Origem do Nome)


    Forçada pela expansão urbana, a cidade de Macapá foi progressivamente ganhando novos bairros, que agrupavam moradores da zona rural do Território Federal do Amapá e da região das ilhas do Pará. É bem verdade, que o crescimento de sua população, motivou o deslocamento de jovens casais para a periferia do burgo. O Bairro do Laguinho, implantado numa faixa de terra espremida entre ressacas e reentrâncias do lago do Pacoval, não absorveu o contingente humano que o procurava, levando muitas famílias a estabelecerem-se depois do então campo do América Futebol Clube, hoje Praça Julião Ramos. A ocupação desta área, a despeito de não haver serviço de água e luz, verificou-se rapidamente, ao ponto de atingir em breve espaço de tempo o lago supra mencionado. Por alguns anos, o atual Bairro do Pacoval foi identificado como Laguinho, gerando discordância, pois alguns moradores observaram que o mesmo braço ou ressaca do Pacoval, que enveredava por áreas baixas, prolongava-se até a Av. Pe. Monoel da Nóbrega, entre as Ruas Odilardo Silva e Jovino Dinoá. Havia entretanto uma diferença, porque na parte oeste do novo bairro a ressaca era mais larga, abrangendo espaço dos atuais bairros Jesus de Nazaré e Aeroporto. Nada mais justo, portanto, para que o bairro fosse batizado como Pacoval. 
Mas, qual a origem deste nome, que não existe apenas em Macapá? A resposta é simples e para conhecê-la, somos obrigados a recorrer à cultura indígena. 
No NHEENGATU - vocábulo que significa falar bem, corretamente (NHEÊN = falar / GATU = bem) ? Pacoba era uma planta cujo fruto e folhas se assemelhavam a banana, tão bem conhecida dos portugueses, embora de origem árabe. Quando os lusitanos introduziram a bananeira no Brasil, os índios continuaram a dar ao novo fruto o nome de pacoba. À bananeira eles identificavam como Pacobayba. Ao lugar onde havia muitas pacobas os índios denominavam Pacobatuba, sendo o vocábulo tubaempregado para derivar abundância. Diante do impasse, os nativos estabeleceram a diferença à sua maneira, adicionando ao termo pacoba o vocábulo cororoca, que é um arbusto de folhas espessas, grandes e largas, também chamada pacaveira. A palavra é procedente do tupi e significa desfazer-se. A pacova-sororoca, como passaram a escrever os portugueses, tem seu habitat nos igapós de terra firme e nas beiradas dos riachos na mata. Os indígenas faziam colares das sementes e teciam as fibras das folhas da cororoca, desfazendo assim, quase todo o arbusto. Também utilizavam as folhas inteiras para colocar determinados alimentos, como se elas fossem pratos. Com o passar do tempo, o costume indígena foi mantido por nossos caboclos, que a utilizavam para embrulhar peixe, carne salgada e para forrarem paneiros (para guardar farinha, açúcar moreno, açaí e outras frutas miúdas).
Sororoca (Foto: Norma Crud - 2001)
Planta nativa da amazônia, muito parecida com a bananeira, mas não dá banana. Largamente utilizada na cultura ribeirinha e amazônida para embrulhar diversas coisas (peixe, açaí, carne...) e há até aplicações medicinais. os indígenas generalizaram como pacova também para a bananeira que conheceram dos portugueses.
     Faz-se necessário frisar, que a região de Macapá era habitada pelos índios Tucujus, hábeis caçadores e pescadores, que também valiam-se da Pacova-Cororoca para utilidades domésticas. É claro que o lago do pacoval, possuía em abundância a Pacova-cororoca, a chamada bananeira do mato ou dos tolos. O termo Pacoval é próprio da língua portuguesa que, a exemplo do topônimo indígena bacobatuba, identifica o local onde há muita pacoba ou pacova.
Lago do Pacoval em 1960 (Foto: Dr. Jorge Pedro Pereira Carauta). 
Muita pacova (sororoca). Um pacoval.
O Dr Carauta, autor desta foto de fevereiro de 1960, em 16/08/2000 fez uma nota a Dr Norma Crud descrevendo como era o cenário do lago do Pacoval. Relato encontrado no relatório "Ressaca: Ecossistema Úmido do Amapá", da Dr Norma e  disponível para consulta na Bibiblioteca Ambiental da SEMA em Macapá. Veja aí e imagina o cenário do Pacoval mais de 04 décadas atrás:
"A Lagoa do Pacoval era magnífica, com muitos buritis e presença de maracanãs e patos (que são vendidos nos arredores, vivos e mortos). A água estava quase coberta de "linheira", parecida com arroz, assim como heliconia, gramíneas e outras plantas aquáticas. Quando fui sozinho me alertaram para tomar cuidado com as sucuris. Na mata de várzea vi urucu, açaí, aninga, bacabeira (palmeira) e várias leguminosas. Era um verdadeiro paraíso ouvindo-se a sinfonia da fauna aérea, aquática e terrestre. Herborizei algumas plantas que foram posteriormente depositadas no Museu, digo, no Herbário do Museu Nacional. Tirei algumas fotos e, no dia 9 (fev/1960), retornei ao mesmo local, para admirar a mais bela paisagem que vi na Amazônia até hoje. Não fossem os ataques de carapanã, o paraíso seria perfeito, mas afinal eles precisavam de sangue. Às margens da lagoa vi também muitas (...descrição de nomes científicos de plantas....). Chamava atenção a SOROROCA de inflorescências alaranjadas com formigas vermelhas."

Pacoval (Foto do Blog da Hélida). 
Dá uma passada lá, encontrei uma interessante abordagem sobre a sororoca (pacova)
  
 Texto de NILSON MONTORIL DE ARAÚJO
Pesquisado na BIBLIOTECA MUNICIPAL DA PREFEITURA DE MACAPÁ
 CONHEÇA NOSSAS BIBLIOTECAS!



loading...

- Macapá E Suas Ruas (rua Leopoldo Machado)
Leopoldo Machado (Leopoldo Gonçalves Machado, 1882 - 16/04/1926): Há referências na história amapaense de Leopoldo Machado como Intendente de Macapá, entre Janeiro de 1914 à Abril de 1920. Segundo o historiador Edgar Rodrigues, foi um dos grande...

- Bairros De MacapÁ - O São Lázaro (parte 3)
O Bairro São Lázaro continua como meu foco de observação. Não sou historiador, nem sociólogo, jornalista ou outra coisa semelhante qualquer. Estas breves postagens são um registro das impressões de um cidadão sobre esta cidade em crescimento...

- Bairros De MacapÁ - O São Lázaro (parte 1)
Texto do Jornal "O Liberal" (assinado por Izael Marinho  em 13/03/1997) sobre o Bairro São Lázaro. Conta um pouco de suas origens como invasão e os problemas enfrentados na época. Reportagem que dá para fazer um paralelo com a atual situação...

- MunicÍpio - Amapá (parte 1 - Informações Gerais)
Reportagem do Informartivo do Governo do Estado do Amapá (Jornal Participação - Ano I / Nº 08 / Outubro-2011). O texto é de Edgar Rodrigues.  Município de AMAPÁ, 110 anos   No dia 22 de outubro, o Município de Amapá completou...

- Macapá, Minha Cidade!
Em 1997 a Prefeitura Municipal de Macapá (através da SEMAT) elaborou e distribuiu um folder promocional sobre a cidade. O texto aborda alguns aspectos importantes sobre a história, cultura e turismo.  O material foi pesquisado no acervo da Biblioteca...



Amapá








.