"A Noite dos Cristais" (Luís Fulano de Tal)
Amapá

"A Noite dos Cristais" (Luís Fulano de Tal)


A Fortaleza de São José de Macapá é um lugar envolto em muitas histórias. 
Essas paredes foram levantadas a custo de muito sofrimento e escravidão
Não dá para caminhar por ali e não pensar nisso. De noite então... 
Essas grades já foram presídio em Macapá em épocas mais recentes, 
e se prestaram também ao papel de porões da ditadura.
... É o entra aí não!! Esse lugar evoca dor, angústia, injustiça, morte... 
Não percebes?
É na noite que o terror cresce no coração dos solitários propensos a isso. Mais de uma vez estes portões se apresentaram a mim, como um convite macabro à minha curiosidade aguçada em perceber mais de perto os horrores que se desenrolaram entre estas masmorras frias, escuras e testemunhas de dores. Tá doido! A sensação de claustrofobia de dia já é grande, alvará de noite. Até essa capela tem um clima pesado... enquanto uns rezavam, outros sofriam. Ah! Prefiro entender as coisas pelas pesquisas e nos livros, como este que foi lançado neste dia. O programa Fantástico vai exibir uma série sensacionalista e essa fortaleza será um dos cenários... Isso será no segundo semestre deste ano.
 Uma névoa de aflição paira no ar... 
Cada canto custou um preço alto e desumano.

Olha meus amigos, deixa eu situar as coisas. Caminhar na Fortaleza só pode nos horários de visitas, acompanhado dos guias. Essas imagens foram feitas mediante autorização. É que na bela noite de 18/05/2012 ocorreu um importante evento cultural na Fortaleza: o lançamento do livro "A NOITE DOS CRISTAIS" de Luís Fulano de Tal. O local foi muito propício à programação (no contexto da 10ª Semana dos Museus). Nas páginas deste livro encontramos relatos da escravidão em uma Bahia do século XIX. Testemunho de uma triste e injusta página da história, tal qual a sensação capaz de nos transmitir cada canto deste forte.

LEITURA SUGERIDA
"Eis o livro. Concebido, gerado e parido... A pesquisa foi feita entre junho e dezembro, no vácuo da greve dos professores de 93. De janeiro a março de 94, em pleno verão, escrevi o libelo. Êxtase. Foram os dias mais exuberantes de minha vida: lia, ria, escrevia e chorava. Parto difícil, a fórceps, de noite, chovendo, sozinho, e no escuro. Nasce o rebento..."

"Dedico estes escritos aos excluídos, despossuídos e outros idos do Brasil"

"Só de raiva escrevo com amor"

(Luís Fulano de Tal)


Eis o autor:
"... A minha infância foi ouvindo histórias. O pessoal do Nordeste mantem uma tradição dos contadores de histórias. Sentava-se para ouvir, através da mãe, dos avós, tios... Esse foi o grande iniciador e estimulador desta coisa toda... Essa oralidade, essa coisa de contar histórias..."    
(O autor, sobre sua origem como escritor)
Luís Fulano de Tal (é isso mesmo!!!) é o pseudônimo adotado pelo literato Luís Carlos de Santana. Pernambucano de origem humilde, nasceu em 1959 e graduou-se em Letras pela USP, onde fez também mestrado em História Social. Hoje, além de autor premiado e consagrado, é também professor da Rede Municipal (lecionando Literatura Brasileira/Portuguesa, Redação/Criação de Texto e Língua Francesa) com experiências no ensino fundamental, superior e cursinhos pré-vestibulares.
"Um autor promissor que toma a sério não só o seu tema nuclear, 
de inegável interesse social, como também o ofício do escritor, 
para quem o trabalho da linguagem é um prazeroso dever." 
(Alfredo Bosi)

O livro
Conta a história do negro Gonçalo Santanna, um brasileiro que nasceu na primeira metade do século XIX. A obra é baseada em suas memórias, a partir do manuscrito encontrado em Caiena (Guiana Francesa) por um estudante também negro, brasileiro. O autor descreve a escravidão, relata costumes da época, o tráfico na África e personagens comuns do cotidiano em Salvador (Bahia). Em janeiro de 1835, estoura uma rebelião de escravos chamada Revolta dos Malês comandada por negros de orientação islâmica, conhecidos como malês. O movimento idealizou a libertação dos prisioneiros e também foi contra a opressão e intolerância religiosa. Na tentativa de alcançar seus ideais objetivaram a invasão  de casas, do forte, engenhos e tomar a cidade. 
"...Os escravos que participavam do conluio riam à socapa. Era ardentemente desejado o momento em que invadiriam as casas senhoriais... quebrariam as louças... sim... sim... o lustre da sala... os penduricalhos... um trabalhão pra limpar... ah... sim... a cristaleira... copos e jarras... delicados desenhos... finos contornos. Ah... certo... as taças!... com vinhos cor de sangue... as festas... as haras... os negócios... apoteose do brilho e esplendor. Sim... sim... e os bibelôs de nhanhã... Aquela seria conhecida na história como a noite dos cristais, não foi."

(Trecho do livro "A Noite dos Cristais" de Luís Fulano de Tal) 
 Ilustração do confronto (Fonte: jornalfolhapopular.blogspot.com.br)
O movimento foi violentamente reprimido e cerca de dois mil negros encontraram seu destino sob a repressão portuguesa: mortos ou enviados às galés (em prisão perpétua ou o mínimo de quinze anos). Houve também punições públicas. O menino Gonçalo, narrador, cita essa repressão e a forma como os negros foram tratados... Sua avó foi uma das vítimas. Para pagar as perdas do Império, Gonçalo é vendido como escravo para um engenho em Pernambuco, sendo escravo por dez anos. Foge para a Guiana, onde inicia o manuscrito de que nos conta o estudante brasileiro. Segundo o autor, esse manuscrito, posteriormente, foi tomado por autoridades guianenses e provavelmente destruído. 
"...Resolvi botar tudo no papel antes que esquecesse."
(Luís Fulano de Tal)

O livro foi escrito e publicado em 1994 e esta edição, agora lançada em Macapá, é de 1999. Vale dar uma conferida, muitos a consideram literatura infanto-juvenil (pelo fato de ser contada na ótica de um menino), porém, a obra transcede isso e se constitui em um relato histórico sobre a escravidão.
Gregor Samsa prestigiando o autor no lançamento da obra em Macapá.
O Historiador Hermano Araújo assim o apresentou no lançamento em Macapá: 
"O livro é de importante contribuição para o processo de construção da identidade social e cultural. Combate o racismo e o preconceito e busca pela valorização do humano, reconhecendo a igualdade dos diferentes seres que constituem o nosso povo, O POVO BRASILEIRO."

Eis algumas imagens do evento:


Edição: R. Castelo 2012

Fontes de Consultas:
  • tribunaamapaense.blogspot.com.br   (Uma das melhores notas em jornais amapaenses sobre o lançamento do livro)
  • correionago.ning.com (Texto de Albenísio Fonseca sobre a Revolta dos Malês)
  • brasilescola.com (Texto de Rainer Sousa sobre a Revolta dos Malês)
  • smec.salvador.ba.gov.br (Texto de João José Reis sobre a Revolta dos Malês)
  • amapadigital.net  (No post a explicação do pseudônimo adotado pelo autor) 



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